domingo, 13 de novembro de 2011

G1 chega ao topo da Rocinha pacificada Moradores tranquilos dizem que nem sentiram ocupação. Maior favela do Rio foi ocupada em megaoperação neste domingo.


Ruas cheias de óleo, barricadas desmontadas, moradores curiosos, carcaças de motos roubadas abandonadas por traficantes que não reagiram à operação de pacificação da Favela da Rocinha, a maior do Rio de Janeiro, ocupada totalmente na manhã deste domingo (13) na maior operação desse tipo já realizada no estado. E nenhum disparo.

As repórteres do G1 entraram na Rocinha às 7h, depois de anunciada a pacificação total da favela, e percorreu a pé as principais ruas da comunidade. Os moradores ainda se escondiam em suas casas, mas muitos afirmaram não ser por medo. “Eu estava é dormindo, não ouvi nenhum barulho”, diz uma moradora de condomínios do PAC.
Ainda no início da manhã, moradores começavam a tentar sair para trabalhar. As barricadas improvisadas, pedaços de concreto e de madeira deixados nas ruas, já haviam sido deslocadas pelo Batalhão de Operações Especiais (Bope). Mas o óleo no asfalto ainda trazia perigo. Muitos escorregaram nas ladeiras, por onde idosos também caminhavam, nenhum com ferimento grave.
Ao longo de ruas largas, carros e blindados ainda percorriam a favela. Começava a revista nas vielas. Estudantes, mulheres, todos eram parados por policiais. Bolsas e mochilas averiguadas. Uma delas em frente à casa do traficante Sandro Luis Amorim, o Peixe, preso durante a semana quando tentava escapar da comunidade escoltado por policiais.

Champagne, vinho, televisão de LCD, DVD, luxo. Um dos principais comparsas de Nem, Antonio Bonfim Lopes, chefe do tráfico da favela, morava em um beco que foi achado por acaso, segundo a polícia.
A casa camuflada entre as demais, apenas tijolos do lado de fora, é pequena, mas luxuosa. São pouco mais de 30 degraus para chegar. Nenhuma indicação para encontrá-la. “Peixe? Eu só conheço o que tem no mar”, nos dizia um pouco antes Carlinhos, que aluga a laje por R$ 3 para quem visita a comunidade.
Mais acima, quanto mais se passam as horas, menos policiais e mais moradores. Por volta das 9h, o Bope começava a procurar traficantes nas matas ao redor. A operação pente-fino apreendeu armas. O barulho dos helicópteros se intensificava, alguns se aproximavam de possíveis locais de fuga, outros distribuíam panfletos pedindo apoio à ação.
Além das dezenas de motos, frutos de crime e depenadas, muito lixo. O cheiro, por vezes insuportável, é parte da rotina dos moradores em muitas vias. No ponto mais bonito do morro, de onde se pode ver a praia e quase toda a favela, máquinas caça-níqueis abandonadas.

Na parte mais pobre da Rocinha, recebemos o alerta para tomar cuidado. Por entre as árvores, avistamos uma escadaria improvisada: pedaços de madeira pregados até o topo, para os olheiros do tráfico. Até lá, pouco mais de três horas de caminhada.
Às 12h15, muitos moradores já se aglomeravam na principal rua da favela, a curva do S, para acompanhar o hasteamento da bandeira da Unidade de Polícia Pacificadora. A favela estava acordada. “Acho que a UPP vai melhorar bastante aqui. Espero”, diz Andrei , 27. “Pelo menos, não teve nenhum tiro”, completa.

Rocinha
Localizada entre os bairros da Gávea e de São Conrado, a Rocinha tem, atualmente, 69,3 mil moradores, segundo dados do Censo 2010 do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), que ocupam uma área de 864.052 m².
A comunidade tem três escolas e três creches municipais, um Ciep, 11 unidades de saúde, um centro de assistência social e duas praças .De acordo com um estudo realizado pela Fundação Getúlio Vargas (FGV), a Rocinha é a região administrativa da cidade que tem a população com menor nível de escolaridade entre todas do município do Rio de Janeiro.