Para o secretário de Segurança Pública do Rio de Janeiro, José Mariano Beltrame, a prisão do traficante Antônio Bonfim Lopes, o Nem, apontado como chefe do tráfico na Favela da Rocinha,
não pode ser vista como “troféu de guerra”. Ele confirmou, na tarde
desta sexta-feira (11), que a ocupação definitiva da Rocinha, na Zona
Sul do Rio, terá início na madrugada deste domingo (13). Segundo o
secretário, a decisão foi tomada durante a manhã, após reunião com
entidades.
“Vai ser na madrugada de domingo, considerando que aquela área e outras
estão cercadas, nós vamos implantar definitivamente a UPP da Rocinha”,
afirmou.
Ao ser questionado sobre a presença de policiais de Maricá, na Região
Metropolitana do Rio, na operação que culminou na prisão do traficante
Nem, Beltrame afirmou que não tem conhecimento de quem foi a
determinação. “Tem que perguntar para quem os chamou. Em segundo lugar,
nós não podemos fazer da figura deste traficante um troféu de guerra. O
troféu do Rio de Janeiro é o troféu da quebra de paradigma de território”, afirmou.
Nem foi preso na madrugada de quinta-feira (10), enquanto tentava fugir no porta-malas de um carro.
A entrevista foi concedida na sede do Batalhão da Polícia de Choque, no
Estácio, onde Beltrame acompanhou o lançamento do projeto Garupa, que
forneceu à corporação motocicletas, novos capacetes, coletes, armas
não-letais e outros equipamentos para melhor comunicação dos policiais.
Delação premiada
Sobre reportagem da edição desta sexta do jornal “O Globo”, que diz que
o traficante, em depoimento à Polícia Federal, contou que metade de
tudo o que arrecadava era gasto com propinas para policiais civis e
militares, Beltrame disse que não descarta delação premiada para Nem.
“Isso é uma atitude que pode fazer ele vir a contribuir com a
sociedade”, disse. “Eu faço votos de que essa pessoa revele o que ela
sabe, tanto no desvio de conduta de agentes públicos, quanto na
arquitetura do tráfico (...) Qualquer informação que essa pessoa possa
vir a dar num depoimento, seja onde for, para quem for, pode sem dúvida
nenhuma incitar e nos projetar para uma investigação onde a gente tenha
resultados práticos”, completou o secretário.
Beltrame contouque Nem está sendo ouvido pela Corregedoria em Bangu.
Ele disse ainda que cada ocupação exige uma estratégia diferente, ao ser
questionado sobre o motivo de o cerco à Rocinha ter começado dias antes
da ocupação. “Esta foi a estratégia para a Rocinha. A próxima nós vamos
ter que ver”, explicou.
O secretário afirmou também que operação está muito bem delineada e que
vários aspectos foram tratados, principalmente a segurança da
população. “Nas UPPs anteriores não precisamos disparar nenhum tiro, e
nós esperamos que seja isso que aconteça. Mas nós contamos com uma
variável que nós não temos, que é a intenção do criminoso, do bandido
que está lá dentro”, disse Beltrame.
Policiais devem ser presos, diz Cabral
Mais cedo, o governador do Rio de Janeiro, Sérgio Cabral, disse que a polícia deve investigar as denúncias de pagamento de suborno a policiais feitas pelo traficante Nem na Zona Sul do Rio.
“O policial que aceita suborno é duplamente marginal. Além de trair a
sociedade, ele mata os próprios colegas. Merecem penas muito duras
mesmo”, disse Cabral. “Mas tenho certeza que a maioria absoluta é
composta por pessoas como aquele sargento que fez a prisão [de Nem]”.
Ocupação da Rocinha
A favela da Zona Sul da cidade vive a expectativa de receber a 19ª Unidade Polícia Pacificadora (UPP) nos próximos dias, após a prisão de Nem. O traficante foi preso na madrugada de quinta-feira (10), após ser encontrado por policiais militares do Batalhão de Choque
escondido no porta-mala de um carro, ao tentar fugir da comunidade. Os
PMs encontraram no veículo cerca de R$ 180 mil e cinco celulares. Antes
da prisão, os homens que ajudavam o traficante na fuga chegaram a
oferecer R$ 1 milhão de suborno em troca da liberdade de Nem, segundo a polícia.
Em nota, a Secretaria de estado de Administração Penitenciária (Seap) informou que Nem está em uma cela indivividual, teve o cabelo raspado, terá que usar uniforme, não tem direito a receber visitas e nem a tomar banho de sol, por enquanto.
A polícia mantém o cerco na Rocinha e faz operações em outros pontos do Rio de Janeiro em busca de integrantes da quadrilha de Nem.