domingo, 4 de dezembro de 2011

Por Vera Rosa / BRASÍLIA, estadao.com.br, Atualizado: 4/12/2011 20:11 Sem apoio, Lupi se antecipa e pede demissão; PT mira Ministério do Trabalho

Vinte e sete dias após dizer que só sairia da Esplanada 'abatido à bala', o ministro do Trabalho, Carlos Lupi, antecipou-se neste domingo, 4, à demissão iminente já decidida pela presidente Dilma Rousseff e entregou o cargo. Trata-se do sétimo ministro que cai em quase um ano de governo.
Enredado em uma teia de denúncias, Lupi perdeu o apoio do PDT, entrou em rota de colisão com o PT que está de olho na vaga e não conseguiu explicar à Comissão de Ética da Presidência acusações de cobrança de propina na pasta.
Na tarde deste domingo, Lupi se encontrou com Dilma, no Palácio da Alvorada. A presidente havia chegado na véspera de uma viagem a Caracas, na Venezuela, e o ministro já recebera recados de que sua demissão eram 'favas contadas'. Para se antecipar ao gesto, acertou com Dilma a saída antes mesmo da reunião da Executiva Nacional do PDT, marcada para esta segunda-feira, 5. Os termos da carta foram combinados com auxiliares da presidente.
'Tendo em vista a perseguição política e pessoal da mídia, que venho sofrendo há dois meses sem direito de defesa e sem provas; levando em conta a divulgação do parecer da Comissão de Ética (...) que também me condenou sumariamente (...), sem me dar direito de defesa decidi pedir demissão do cargo que ocupo, em caráter irrevogável', escreveu Lupi. 'Faço isto para que o ódio das forças mais reacionárias e conservadoras deste país contra o trabalhismo não contagie outros setores do governo.'
Foi o passivo de escândalos que selou o destino de Lupi e nem mesmo as juras de amor a Dilma adiantaram. Depois de desafiar a Comissão de Ética, que na quarta-feira recomendou a dispensa, ganhar tempo e anunciar que faria uma 'análise objetiva' do caso, Dilma chegou à conclusão de que não seria possível segurar o auxiliar até a reforma ministerial, prevista para ocorrer no fim de janeiro de 2012.
O secretário executivo do ministério, Paulo Roberto dos Santos Pinto, assumirá o comando da pasta, interinamente, até o início do ano que vem. Ele é filiado ao PDT, mas não tem a simpatia do partido. Dilma, porém, não quer que o PDT indique um novo ministro agora. Motivo: ela pretende fazer um rodízio na partilha dos cargos e tirar o Trabalho do controle pedetista, na reforma da equipe.
Lupi é o sexto ministro que cai sob denúncia de corrupção. Pesaram contra ele, ainda, acusações de repasse de dinheiro do ministério para abastecer o caixa do PDT e patrocinar ONGs de fachada. Até agora, dos nomes abatidos na Esplanada, apenas Nelson Jobim (Defesa) não integrou a lista da 'faxina'. Foi dispensado por ter dado declarações consideradas 'inconvenientes' sobre o governo.
A cúpula do PDT vai se reunir na tarde desta segunda, em Brasília, para discutir o day after da crise e há quem defenda a saída do partido da base aliada. 'Para mim, o PDT não deve ter nenhum cargo no governo Dilma', afirmou senador Cristovam Buarque (PDT-DF). 'Nós vamos continuar no governo, mesmo não sendo nesse ministério', resumiu o deputado André Figueiredo (CE), presidente interino do PDT.
Lupi conversou ontem com amigos, por telefone, e avisou que desocuparia a cadeira, porque sua família não estaria aguentando a pressão. 'A cúpula do governo mandou o Lupi resistir e pôs o PT para bater nele. Foi assim com o PC do B também', disse o deputado Paulo Pereira da Silva (PDT-SP), presidente da Força Sindical, numa referência à crise que derrubou o ministro do Esporte, Orlando Silva.
O Ministério do Trabalho foi um feudo petista no primeiro mandato do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Por lá passaram Jaques Wagner (hoje governador da Bahia), Ricardo Berzoini (atualmente deputado federal) e Luiz Marinho, prefeito de São Bernardo do Campo. Agora, petistas agem para retomar o domínio da pasta, em 2012.
Fusão. Sem ceder às pressões, Dilma analisa a possibilidade de resgatar um desenho antigo da Esplanada e fundir Trabalho com Previdência. Nesse cenário, o PDT poderia ficar com a Agricultura, hoje comandada pelo PMDB. O nome mais cotado para o posto, nesse caso, seria o do ex-senador Osmar Dias (PDT-PR), que também não tem chancela oficial do partido.
O presidente do PT, Rui Falcão, negou que a legenda tenha agido para desbancar Lupi. 'A minha preocupação sempre foi com o aparelhamento e com a chamada política de porteira fechada, de ocupar determinados postos com pessoas que só representam uma central sindical', disse Falcão.
A briga entre a CUT, braço do PT, e a Força Sindical, ligada ao PDT, foi um importante ingrediente da crise política. Na guerra pelo poder, integrantes da Força contavam que Dilma desidratou o Trabalho, levando as principais negociações para a Secretaria-Geral da Presidência.
Com a saída de Lupi, o PDT espera reverter a pecha de corrupção do partido. 'Temos que lutar para tirar essa imagem de que o partido teve envolvimento em um esquema de arrecadação para pagar campanhas eleitorais', disse o secretário-geral do PDT, Manoel Dias. / COLABOROU EUGÊNIA LOPES
(Atualizada às 22h48)

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