Foi um título com a cara da Fiel: sofrido, brigado e marcado por lágrimas - de
alegria e de saudade. A conquista deste domingo, talvez seja exagero, talvez
não, começou de madrugada. Com a morte de Sócrates, aos 57 anos, o Corinthians
tinha mais um motivo para ganhar o seu quinto título brasileiro. Como se fosse
pouco levantar a taça mais importante do país, o time alvinegro ainda tinha que
homenagear o Doutor, um dos maiores ídolos de sua história.
Em campo, o Corinthians segurou um difícil empate com o Palmeiras, sem gols.
Bastava para ser campeão. Bastou para soltar o grito do bando de loucos. Bastou
para um time de operários que brilhou no início do campeonato, quando venceu
nove jogos nas dez primeiras rodadas, empatando apenas um.
Foi um título sem heróis, a não ser os anônimos, aqueles que frequentam a
arquibancada. Ou será de muitos heróis? De um Sheik muito eficiente e do
Imperador de um gol só... deles, que sequer jogaram a última partida. Ou do meia
Alex, que saiu do banco algumas vezes para salvar os companheiros? Impossível
não citar os gols de Liedson, que jogou grande parte do torneio no sacrifício.
Como esquecer o atacante Willian, verdadeiro guerreiro da Fiel? Do goleiro Julio
César, contestado e tão importante? De Leandro Castan, Paulo André e, por que
não, do barrado capitão Chicão? Mas talvez a maior marca desse time operário
esteja nos pés de Paulinho e Ralf, seus melhores jogadores. E volantes...
Em um campeonato marcado pelo equilíbrio, venceu quem foi mais regular. E muito
do mérito corintiano é de Tite. Diante de tantas dificuldades, ele manteve o
time na liderança em 27 das 38 rodadas. Mas um título do Timão sem sofrimento
parece não ter tanta graça. Talvez por isso o Corinthians tenha levado a disputa
até a última rodada. Mas o treinador explodiu de alegria, junto com a torcida,
antes do apito final. O Vasco empatou com o Fla, no Rio, e como o jogo terminou
antes, era o suficiente para garantir a conquista alvinegra. Foram 71 pontos
contra 69 dos vascaínos. Aos palmeirenses, nenhum consolo, já que o time
terminou em 11º, com 50 pontos, classificando-se para a Sul-Americana.
Os números da campanha corintiana são incontestáveis. Além de ter liderado o
torneio por mais tempo, a equipe obteve também a melhor série de resultados na
história dos pontos corridos: nove vitórias e um empate nas dez primeiras
rodadas. Nem mesmo a crise que viveu no segundo turno foi capaz de atrapalhá-lo.
O Timão nunca esteve abaixo do quinto lugar e foi quem obteve o o maior número
de triunfos (21) e a defesa menos vazada entre os 20 participantes (36
gols).
Com a conquista, o Corinthians iguala-se ao Flamengo em número de títulos
brasileiros (oficialmente, a CBF não considera o Flamengo campeão brasileiro de
1987 - o time carioca ganhou o módulo verde da Copa União) , todos na “era
moderna” da competição. Os clubes com as maiores torcidas do país estão abaixo
apenas de São Paulo, com seis, e de Palmeiras e Santos, com oito, ambos
beneficiados com a unificação dos extintos Torneio Roberto Gomes Pedrosa e Taça
Brasil.
Vencer o principal torneio do país tem um sabor especial para Tite. Depois de
balançar no cargo em alguns momentos da temporada, o maior título da carreira
faz o treinador afastar a desconfiança de uma ala da torcida e assegura a
permanência dele em 2012. A missão agora volta a ser acabar com o eterno desejo
alvinegro de conquistar a Taça Libertadores.
Quem também se fortalece é o presidente Andrés Sanches, novo chefe de
Seleções da CBF. Em um mandato caracterizado pelo aumento de receitas e por
contratações badaladas, como Ronaldo, Roberto Carlos e Adriano, o dirigente
obtém seu maior triunfo no campo, fechando um ciclo considerado de "redenção"
pelos dirigentes – sob a gestão dele, o clube venceu também a Copa do Brasil e o
Paulistão de 2009. Ele se afasta do cargo no dia 15 de dezembro, mas deixa seu
grupo ainda mais fortalecido para vencer as eleições de fevereiro. Mário Gobbi
Filho é o candidato da situação.
Nem a briga generalizada entre os jogadores após Jorge Henrique dar um chute
no vácuo, marca registrada de Valdivia, estragou a festa corintiana. João Vítor,
do Verdão, e Leandro Castán, do Corinthians, foram expulsos, juntando-se a
Valdivia (Palmeiras) e Wallace (Corinthians), que receberam vermelho durante a
partida. Com jeito moleque, além de repetir o "drible" do rival, o atacante
corintiano ainda falou que estava "retribuindo o carinho" do Valdivia, excluído
da partida após falta dura, onde sobrou até cotovelo.
Corinthians joga mal; Palmeiras dominaAntes de o jogo
começar, emoção na despedida a Sócrates. Torcedores e jogadores levantaram o
braço direito, imitando o gesto imortalizado pelo Doutor ao comemorar seus gols.
Mas a emoção dos mais de 34 mil corintianos que lotaram o Pacaembu logo se
transformou em nervosismo para o Timão. A pressão que a equipe tentou impor nos
primeiros minutos não surtiu efeito diante de um Palmeiras bem posicionado e
paciente. A velocidade aplicada pelos alvinegros foi controlada com faltas
simples que impediram qualquer aproximação perigosa. Em cinco minutos, foram
cinco infrações e nenhum trabalho para Deola.
A dificuldade em se aproximar da área, gradativamente, enervou o Corinthians.
O excesso de passes errados no setor ofensivo deu ao Palmeiras a chance de
controlar o jogo. Sem pressa, o time dirigido por Luiz Felipe Scolari apostou em
lançamentos pelo alto para tentar surpreender os zagueiros Paulo André e Leandro
Castán. Valdivia levou a melhor em boa parte dos lances contra o improvisado
volante Wallace, mas ficou aquém do esperado na criação para Luan e Ricardo
Bueno. Apenas Marcos Assunção assustou em cobranças de faltas.
Enquanto o Corinthians sofria para se acertar, o Vasco ficou em vantagem
contra o Flamengo, no Engenhão, e manteve o sonho de levar a taça para São
Januário. O sistema de som do Pacaembu, que vinha anunciando todos os outros
resultados da última rodada, ignorou o gol de Diego Souza a pedido da direção
corintiana. Os jogadores do Timão desceram aos vestiários sem saber a vantagem
do rival na briga pelo título.
Antes de o primeiro tempo acabar, o Corinthians reclamou de um pênalti em
lance duvidoso. Willian recebeu passe de Alessandro na área, recebeu um toque do
joelho de Henrique e caiu ao trombar com Leandro Amaro. A bola sobrou para
Liedson, que finalizou contra um marcador e perdeu boa chance. Os atletas ainda
pressionaram o árbitro Wilson Luiz Seneme, que nada
marcou.
Valdivia e Wallace expulsos
O Corinthians
voltou para o segundo tempo outra vez tentando pressionar. Agora, contudo, teve
a ajuda de alguém que poderia desequilibrar do outro lado. Logo aos três
minutos, Valdivia cometeu falta violenta sobre Jorge Henrique e foi expulso. Sem
o Mago, o Verdão teve problemas para deixar a defesa e acabou permitindo que o
Timão segurasse a bola no campo de ataque. Para ajudar, Renato Abreu empatou
para o Flamengo. Desta vez, o sistema de som do Pacaembu informou o resultado e
colocou fogo na Fiel.
Apesar de melhorar seu desempenho e do incentivo das arquibancadas cada vez
maior, o Timão seguiu com problemas para passar pela defesa adversária. Alex foi
bem marcado por Márcio Araújo e não conseguiu acionar Liedson. O Palmeiras só
respondia nas faltas com Marcos Assunção. Em uma delas, quase voltou a dar
esperança ao Vasco. Fernandão desviou de cabeça e carimbou a trave.
O drama corintiano reapareceu dois minutos mais tarde, quando Wallace cometeu
falta violenta em Maikon Leite e também foi expulso. O Verdão chegou a marcar,
com Henrique, mas a arbitragem marcava impedimento de Fernandão no início da
jogada. Por um instante, o silêncio tomou conta da parte alvinegra do
Pacaembu.
A partir dos 40 minutos, perder o título parecia impossível. A festa começou
aos poucos nas arquibancadas. Em campo, muita confusão. Jorge Henrique deu o
famoso "chute no vácuo", criado por Valdivia, e deu início a um tumulto com João
Vitor, que acabou expulso. Outros jogadores foram até a linha de fundo e a briga
se generalizou. Tite e o trio de arbitragem tentaram apartar. Com o problema
resolvido e o fim do jogo entre Vasco e Flamengo, o Pacaembu explodiu no coro de
campeão.
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